31 Jul 2023
Em entrevista no programa ‘ADN Oliveirense’ com helena terra
No último ADN Oliveirense o comendador Manuel dos Santos Gomes foi o convidado. Nasceu a 19 de abril de 1945, na freguesia de Fajões e desde cedo se dedicou aos trabalhos agrícolas. Ingressou no associativismo cooperativo, em 1989, como vogal da direção da PROLEITE - Cooperativa Agrícola de Produtores de Leite do Centro Litoral, C. R. L., tendo em 1992 assumido funções como presidente da direção, que mantém até à presente data. Um pouco da grande história de Santos Gomes, que contou em pormenor na Azeméis TV/FM.
A história de uma humilde família
“Eu venho de uma família humilde, filho único. O meu pai foi para o Brasil com 17 anos, esteve três meses desempregado e passou muita fome. Depois arranjou um emprego, na construção naval. A empresa foi evoluindo e eram já 80 empregados, sendo que, ele era o número dois e só não era o um, porque não sabia nem ler, nem escrever. Entretanto, um primo dele queria que ele voltasse para Portugal, mas ele só vinha se fosse para casar com a minha mãe, a Dolores, filha do meu avô, a quem ele tinha servido como criado, antes de ir para o Brasil. Acabaram por se casar por procuração [uma das partes não está presente fisicamente], entretanto o meu pai veio para cá, tinha 36 anos, a minha mãetinha 33 anos, e eu nasci.”
A vida política
“O meu avô esteve toda a vida na política. Quando fui na lista do Dr. Samuel na qualidade de vice-presidente, ele fez questão de vir votar no neto e eu fui buscá-lo a casa. E ganhamos por 30 votos se não me engano. Mas devo dizer que não queria ter aceitado o convite de maneira nenhuma, porque tinha acabado de chegar do ultramar e já tinha combinado com a minha mulher, que quando chegasse casávamos. (…) Nesse tempo o meu avô para andar na política teve de vender várias propriedades. Agora vão para a política e enriquecem logo [risos]. Também cheguei a ser presidente da junta de freguesia de Fajões. Depois de tanto me chatearem eu disse que ia, mas só se fosse por uma lista independente, já havia lista do CDS-PP, PSD, PCP e só faltava o PS, que eu nem queria. Nessa altura eram necessárias 190 assinaturas reconhecidas, para apresentar a lista independente. Vim à conservadora para tratar desse processo, mas já era tarde. Então tive de ir pelo PS, mas exigi que o meu nome estivesse em letras garrafais a dizer independente e ganhei as eleições.”
A Proleite
“Primeiro fiz um projeto de viabilização leiteira para 25 vacas e depois aumentei para cem vacas leiteiras. Mas isto tem uma longa história. No início o senhor Casimiro de Almeida perguntava-me o que eu achava da cooperativa e eu dava a minha opinião. Um dia estava em casa e ele mandou lá um funcionar da Proleite para marcar um jantar comigo, e então queria-me convencer a fazer parte da direção da Proleite. Disse que não, porque ouvia falar muito mal da Proleite. Passado 2/3 semanas voltou à carga e fomos jantar novamente. No final do jantar viemos para fora e ele disse-me uma coisa que me tocou: ‘eu não sou produtor de leite, o senhor é que é e tem de defender a sua classe’. Pronto, aceitei ser tesoureiro e um ano e meio depois faleceu quem era o presidente e fui eu cooptado para ser o presidente, até aos dias de hoje.”
A Marca Mimosa
“A marca Mimosa vem de uma vaca que o Marques Tavares tinha com este nome. Foi ele o responsável por esse nome. Investimos na altura três milhões de escudos, três mil contos por ano. Era e é a marca mais conceituada do mercado dos lacticínios. Acho que juntando todas as outras marcas não vendem mais que a Mimosa sozinha.”
O apoio dado aos agricultores
“Nós fomos advertidos pelo Banco de Portugal que não o podíamos fazer. Mas nós ajudávamos efetivamente os agricultores, não era emprestar dinheiro só por emprestar. Eles tinham de apresentar obras de melhorias para poder produzir mais e melhor qualidade. A Proleite ajuda e continua a ajudar, conseguimos junto do Banco de Portugal explicar que aquilo não era dinheiro para gerar ainda mais dinheiro para nós, mas sim para ajudar os agricultores na sua produção. Portanto, podemos continuar a dar continuidade ao processo.”
Oliveira de Azeméis“há muita coisa a ser feita”
“Aqui em Oliveira de Azeméis há muitas coisas que devem ser feitas, coisas que todos nós notamos. Alguns empreendimentos que estão a ser feitos no centro da cidade, deviam ser feitos mais na periferia. Eu acho que cada um que vai para presidente da câmara tenta sempre fazer o seu melhor. Está tudo muito centralizado e acho que tudo devia ser mais arrumado para as periferias, para dar uma amplitude maior ao concelho. Uma lacuna muito grande que se verifica cá em Oliveira de Azeméis, é nós passarmos à noite no centro da cidade no inverno e isto é uma parvónia, pior que Fajões. Falta aqui diversão noturna, falta cinema e outras coisas que houve em tempos e que agora não há. Nós vamos a S. João da Madeira ou a Santa Maria da Feira e a noite tem vida, é este o defeito que eu encontro aqui em Oliveira de Azeméis.”
A possibilidade de mais um mandato
“Ainda me falta fazer muita coisa, eu tomei a decisão de não continuar mais com os cargos que vão acabando. Mas, fiquei preocupado porque já tive algumas pessoas no meu gabinete a chorar, que eu tinha de ter mais um mandato e aquilo tocou-me profundamente cá dentro. (…) Bem, eu disse que ia falar com a minha família e depois é que dou uma resposta, mas acho que está na altura de eu sair. Sou um individuo que não tem amigos na terra (Fajões), eu já não conheço esta nova geração e tenho vergonha disso. A educação aos meus filhos foi dada praticamente toda pela minha mulher. Eu acho que já dei o meu contributo para a sociedade, não faço isto por causa do dinheiro, quero é saber da minha família e da minha saúde.”
A autobiografia de Manuel dos Santos Gomes
“Estou a fazer a minha autobiografia, estou já a iniciar a mesma e vai ser por partes. A primeira é desde pequeno até à tropa e a outra parte é desde daí até aos dias de hoje. Não é para os meus netos, que eles me conhecem bem, mas é para os meus bisnetos e quem vier a seguir, assim também ficam a conhecer melhor quem é era o bisavô. Infelizmente eu também não consegui conhecer o meu avô materno e gostava de o ter conhecido.”