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Correio de Azeméis

11 Nov 2024

“Sinto-me um homem realizado”

Destaques Concelho

Por solicitação do Correio de Azeméis, Manuel dos Santos Gomes, expôs durante a entrevista as suas três condecorações. Ao centro a medalha de Grande Oficial da Ordem Mérito, à esq. a comenda de Mérito Agrícola e à drt. a Medalha de Honra da Agricultura e Alimentação

Comendador revelou como decidiu não se recandidatar a um novo mandato na Proleite

O Comendador Manuel Santos Gomes, presidente do Conselho de Administração da Proleite durante 35 anos, é atualmente o oliveirense mais medalhado. São já três as distinções atribuídas pela sua vida e trabalho dedicado à agricultura. A 10 de junho de 2012 recebeu a sua primeira comenda pelo então Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva; a 15 de novembro de 2022 recebeu a Medalha de Honra da Agricultura e Alimentação, entregue na época pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes; e mais recentemente, a 20 de setembro de 2024, das mãos do atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi lhe atribuída uma das mais altas condecorações nacionais, a de Grande Oficial da Ordem de Mérito. Neste sentido, Manuel Santos Gomes, veio aos estúdios da Azeméis TV/FM falar sobre o percurso da sua vida, o futuro da agricultura e a sua família como o principal pilar do seu sucesso.

A candidatura à junta de freguesia. “Foi uma das primeiras [batalhas], as primeiras são sempre mais difíceis. (…). Eu felizmente tenho, e sou casado com uma grande senhora e ela disse-me: ‘Tu gostas de andar sempre por aqui e por ali? Vai e aceita. Eu aceitei, mas já havia quatro listas. Mas disse que só me candidatava se fosse como independente. Nessa altura eram precisas 120 ou 140 assinaturas reconhecidas no notário. Fomos ao notário, mas já fomos no limite da data de entrega das listas, e já não houve qualquer hipótese de reconhecer as assinaturas. Tive de ir para um partido. Fui para o PS. Numa freguesia super rural [Fajões] como é que era possível o pessoal votar naquela mão vermelha? Era a mesma coisa que perder as eleições. (…). Então eu só aceitei porque eu disse que tinha de ir em letras garrafais em cima: ‘Manuel Santos Gomes Independente’. Foi assim que eu abracei esse projeto, e ganhei. E ganharia todas [as outras vez que concorresse], por uma razão muito simples: todas as pessoas me conheciam. Eu não tinha qualquer problema de me candidatar, porque sabia que ganhava. Eu é que não queria, porque ia-me consumir muito tempo e eu precisava desse tempo. Eu também era de uma família muito humilde e onde também tínhamos uma agricultura apenas de subsistência. Fiz muita calçada à portuguesa, alcatroei muitas vias e fiz aquilo que pude, com um orçamento na altura de 500 contos.” 

O primeiro homem da freguesia a ter um trator. “Fajões era uma freguesia super rural e eu fui o primeiro homem em Fajões a ter um trator agrícola. Era eu que lavrava [as terras] para quase todas as pessoas da freguesia. Era tudo uma agricultura de subsistência, não era uma agricultura como é hoje de empresários agrícolas.”

Agro Santos Gomes a única vacaria a norte do concelho. “Recebi do meu pai, por herança, duas vacas. Fiz um projeto de viabilização leiteira na altura, que já comportava 25 vacas e comecei a lançar-me, a ter uma ordenha própria só para as minhas vacas, etc. Hoje tenho uma média de 70 vacas leiteiras e tenho um encabeçamento total de 135/140 animais. Posso dizer que só em Fajões é que existe uma [vacaria]. Cesar não tem nenhuma. Nogueira do Cravo não tem nenhuma. Carregosa também não tem, Macieira de Sarnes não tem, Ossela e Oliveira de Azeméis também não. Ou seja, há apenas uma vacaria no norte do concelho. No sul existe muitas desde São Martinho da Gândara, Loureiro, Pinheiro da Bemposta, mas ali para a zona mais industrializada só Fajões é que tem a Agro Santos Gomes.”

Uma família “maravilhosa” e a mulher que “foi tudo”. “Se não fosse a minha família, nomeadamente, a minha mulher, que foi a mãe, foi o pai dos meus filhos, foi tudo. Era uma mãe muito atenta, que está sempre a observar, é muito observadora. Sempre me aconselhou. E nunca disse, nem eu nunca dei um passo que não lhe dissesse. Ela sempre foi a minha conselheira, serviu de tudo. É uma coisa que, de certo modo, me emociona. Eu tenho de lhe dar os parabéns, porque sem ela e sem a família maravilhosa que tenho, num casamento que já dura há 54 anos, com dois filhos e cinco netos, sinto-me realizado. É uma família já de engenheiros, só eu é que tenho uma simples quarta classe e consegui aquilo que vocês vêem.”

“Foi sempre a pensar nos mais desfavorecidos”. “Apesar de ver muitas lágrimas na Proleite, a pedir-me para que eu fizesse mais um mandato de quatro anos, eu comecei a fazer contas. Um dia, dei por mim, a pensar em mim. Normalmente só pensava nos outros, nunca pensava em mim. No bem-estar dos outros, e acho que consegui até certo ponto. Porque eu quando vim para a Proleite tínhamos 4.500 produtores. Hoje temos pouco mais de cem que produzem o mesmo leite que se fazia naquele tempo. Nessa altura tínhamos uma agricultura de subsistência, hoje temos um setor leiteiro de empresários. Eu com esta grande família que tenho, consegui construir isto que vocês vêem, mas nunca fui a pensar nisto. Foi sempre a pensar nos mais desfavorecidos.”

O dia em que decidiu não se candidatar a um novo mandato da Proleite. “Um dia vinha de Lisboa, num dia de chuva e nevoeiro, tinha tido uma reunião às 09h30 no Ministério da Agricultura. E [na vinda] comecei para mim a pensar: ‘O que é que tu andas aqui a fazer? Tu tens 79 anos, queres fazer outro mandato, acabas com 83 anos, mas tu és o outro Pinto da Costa? Não és. Então, está na hora de tu abandonares.’ Pensei isto, sem influências de ninguém. E pronto, decidi que para mim tinha acabado. Este foi o meu último mandato. Sei que houve lágrimas, houve tristeza em algumas pessoas. (…). Foi por isso que eu não fiz mais mandato nenhum, porque achei que bastava. 35 anos que eu dei àquela casa, dos melhores 35 da minha vida. Mas, com mais quatro anos já tenho 83 anos. E o meu pai morreu com 83 anos. E também pensei: ‘O meu pai morreu com 83 anos e eu nesta vida, talvez não chego lá.’ E foi a pensar nisso que eu resolvi não fazer mais nada.”

O futuro da agricultura. “Se olharmos para trás, acho que hoje ser produtor de leite vale a pena. Se olharmos para a frente, não sei o que poderá acontecer daqui a alguns anos. Agora, há uma coisa que eu sei, que nós estamos a ter um crescimento populacional a nível mundial todos os dias e eles têm que comer alguma coisa. Eu acho que [a agricultura tem futuro]. E acho que efetivamente também temos um governo, que pela primeira vez, vejo que fala em agricultura. Por exemplo o anterior governo de António Costa, depenou praticamente o Ministério da Agricultura. Tirou-lhe as florestas, o bem-estar animal, tirou-lhe tudo. Agora, entrou este governo, repôs tudo o que estava mal, pôs tudo no seu devido lugar. Ainda agora no congresso ele apontou que a agricultura que era uma prioridade dele e oiço isso com muito apreço.” 

“Já na tropa fui agraciado”. “Sinto-me um homem realizado. Eu trabalhei muito desde pequeno. A primeira coisa que me começou a abrir mais os olhos foi quando eu fui para a tropa, e, nomeadamente, para o Ultramar. Aí o meu pai, que só tinha este filho, agarrou-se a mim a chorar e disse: ‘Olha filho, tu vais para a terra dos outros, aprende a respeitá-los.’ (...). Quando me disse aquilo tocou-me cá dentro. E eu aprendi muito no Ultramar. Tive uma boa especialidade, que era operador de mensagem, trabalhava nos serviços secretos. Estava sempre em contacto com o comandante. (...). Ele [o comandante], num domingo à tarde, vinha com a esposa e disse-lhe: ‘Este é o melhor homem que eu aqui tenho no batalhão.’ E certo dia ele decidiu atribuir um louvor, onde a ordem de serviço foi lida em 11 companhias diferentes. Já na tropa fui agraciado. Por que será? É uma pergunta que eu deixo.”

 

Recorde-se...
Em julho de 2023, em entrevista à Azeméis TV/FM, no programa ‘ADN Oliveirense’, o comendador Manuel Santos Gomes já tinha anunciado que estava a iniciar o processo de escrita da sua autobiografia.
“Estou a fazer a minha autobiografia, estou já a iniciar a mesma e vai ser por partes. A primeira é desde pequeno até à tropa e a outra parte é desde daí até aos dias de hoje. Não é para os meus netos, que eles me conhecem bem, mas é para os meus bisnetos e quem vier a seguir, assim também ficam a conhecer melhor quem era o bisavô. Infelizmente eu também não consegui conhecer o meu avô materno e gostava de o ter conhecido.”
Manuel Santos Gomes, em entrevista à Azeméis TV/FM, a 19 de julho de 2023 
 

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