26 Jul 2022
Helena Terra *
Bem sei que, estamos todos, com mais vontade de ligar o modo férias do que pensar em assuntos sérios, mas a realidade que vivemos é preocupante e, ainda que façamos as malas e vamos de férias, isso não vai mudar o estado das coisas.
Vivemos uma inflação crescente dia após dia. A pandemia, a escassez de mão de obra, a escassez de materiais e equipamentos, o aumento dos custos energéticos e dos produtos agrícolas, a que se juntam o aumento dos custos de transporte, resultam na constante e generalizada subida de preços. Por via disso, o BCE, aumentou a semana passada a taxa de juro em 0,5 pontos percentuais em toda a zona euro, com vista ao controlo da inflação. Esta subida veio com a promessa ou “ameaça” de que as taxas de juro continuarão a aumentar enquanto tal se mostre necessário para fazer regressar a inflação ao valor projetado pelo BCE, a médio prazo, 2%.
Durante a pandemia planeou-se um novo regresso a normalidade, temendo as diferenças desta novidade. O regresso aí está, mas igual ao que sempre conhecemos, mesmo com o nível de preços muito mais elevado que antes da pandemia. Nas ruas do país ouvem-se falar várias línguas que não a portuguesa. Os lusos estão a ir de férias, mesmo que para isso tenham de recorrer ao crédito ao consumo, desde logo, porque a fatura disso só chegará depois do regresso e, depois, logo se verá.
As pessoas andam stressadas, ansiosas e com um grau zero de tolerância, quer à normalidade quer à adversidade. As notícias e as constantes breaking news, deixam, nos consumidores compulsivos das novidades do dia anterior, a exagerada e repetida a imagem de um mundo cruel, sem espaço para a esperança. Nas diversas redes sociais, cresce a zanga dos seus utilizadores, que espalha a ignorância generalizada, como uma marca pessoalizada do exercício do direito à opinião e depois assistimos todos a um arregimento, quase tribal, das maiores barbaridades no refúgio do computador– esta é a minha opinião e tenho direito a ela!
Além disso, crescem as audiências das CM TV’s e aumenta o número dos leitores, só dos títulos, de alguns dos jornais que são publicados e que são o melhor adubo, num terreno já por si só, fértil para o crescimento dos populismos fáceis, onde vão crescendo partidos políticos e seus protagonistas com discursos de chavões catastróficos e vozearia, completamente vazios de ideias, e assentes em mentiras, mas que são de apreensão fácil para o número dos descontentes, que cresce todos os dias, porque são contra o sistema a quem aqueles culpam de todos os males. Mas o populismo sempre teve maior capacidade de crescimento que o elitismo e, diga-se em abono da verdade que, atualmente os populistas são imensos e as nossas elites, as que cremos como tal, disso apenas têm o rótulo, porque quando se procura o fundo, ele é tão fundo que o não conseguimos encontrar.
Nos sistemas democráticos crê-se que não existe censura, mas esta existe, na sua forma mais ignóbil, que se chama demagogia que, dia após dia, vai crescendo porque é terreno fácil de calcorrear, tendo por meta o fim do sistema em que surgiu e cresceu, o sistema democrático. Eis o estado em que vivemos!
* Advogada