Diogo Barbosa *
Tenho nas minhas últimas crónicas abordado temas ao nível nacional, relacionados com as últimas eleições legislativas.
Creio ser importante esta reflexão para que consigamos perceber o plano geral que nos trouxe até este momento em que o PS obteve uma maioria absoluta, largamente desejada por António Costa, mas não temos parlamento, nem um novo governo.
Ora, uma das razões pelas quais Marcelo Rebelo de Sousa dissolveu a Assembleia da República e, consequentemente, convocou eleições antecipadas, foi a de que o país não poderia ter um orçamento de duodécimos. Não poderia ser mais falaciosa esta ideia. E isso é comprovado pela trapalhada existente atualmente no que toca ao voto dos emigrantes do círculo da Europa, que o PSD viu estar a perder na contagem dos votos e invocou uma ilegalidade com a qual tinha concordado numa reunião entre todos os partidos.A título de esclarecimento, o voto dos emigrantes tinha já uma banda magnética que conferia a legalidade do voto dos cidadãos emigrantes, sem ser necessário o recurso a cópias do cartão de cidadão.
Trapalhadas à parte, o que se comprova com toda esta situação é que vivemos em duodécimos, e nenhum grande mal pareceu vir ao país derivado dessa circunstância e, caso tudo decorra dentro de uma certa normalidade, só teremos orçamento aprovado e em funcionamento lá para julho. Caem assim por terra os argumentos invocados por Marcelo Rebelo de Sousa, de que com o país a viver sem um orçamento e um governo estável a aplicação do PRR ficaria comprometida. Aliado a isto, o ónus de toda esta crise encenada ficou nas mãos daqueles que tinham sido os parceiros, com compromissos claros, do PS nestes últimos seis anos.
Afinal é possível. Afinal é possível o país viver com relativa tranquilidade em duodécimos, tendo esta encenação apenas servido para solidificar o PS e permitir ao PSD ter quatro anos para se reorganizar e clarificar o seu caminho.
Não venham dizer que a culpa da instabilidade é da esquerda.
* porta voz da comissão política Concelhia do BE