25 Jul 2023
Diogo Barbosa *
Discutiu-se na semana passada o Estado da Nação, houve até um Conselho de Estado interrompido posteriormente, cujas conclusões só iremos perceber depois do verão. Mas não é sobre o Conselho de Estado que vou escrever hoje. O importante aqui é o Estado da Nação. É um momento em o Parlamento reflete sobre o último ano, ou até acerca do estado das coisas numa perspetiva mais lata. Vamos então a isso.
António Costa diz que a economia está mais qualificada. Não poderia discordar mais. Basta olhar para os dados sobre o emprego para perceber que ao nível dos postos de trabalho, desapareceram mais de 100 mil empregos de pessoas com licenciaturas. É este o sinónimo de uma economia mais qualificada? Parece que não. Como também não parece quando nos apercebemos que desses empregos, os que ficam são cada vez mais mal pagos. Qualidade só se for no nível de exploração que é realizado sobre as pessoas, essencialmente jovens, que dedicaram a sua vida a obter qualificações para depois terem uma vida de trabalho precária, insegura e sem perspetivas de futuro. Mais uma vez não parece que estejamos num caminho de qualificação da economia. As pessoas são cada vez mais qualificadas, e bem, mas os trabalhos a que concorrem ou nos quais entram, atiram-nas, na maioria das vezes, para uma insegurança que não é justa para ninguém. O trabalho digno tem de deixar de ser agenda e passar a ser realidade.
A economia é uma ciência social e não uma ciência exata, como a matemática ou outras. Sendo uma ciência social não pode olhar para o crescimento de um país baseado apenas em números como a redução do défice ou da dívida, pelo reduzir a compasso da inflação. Tem obrigatoriamente que olhar para a sociedade, e a nossa sociedade tem ficado mais empobrecida. A não ser que o governo abdique da receita dos impostos, iremos ter IVA 0 em alguns produtos para sempre? Iremos ser capazes de pagar a nossa casa na próxima subida de juros ou alteração no contrato de arrendamento?
Podemos estar mais qualificados enquanto país, mas não o estamos no campo da justiça laboral e económica.
* Porta voz do BE