24 Jun 2024
Diogo Barbosa *
Não que seja algo de novo ou surpreendente, mas causa-me sempre algum choque ver dirigentes do partido da extrema-direita portuguesa a fazer uma clara apologia do crescimento do conservadorismo na Europa, em particular com especiais saudações aos resultados obtidos pelo partido de Marine Le Pen, em França, e pelos resultados da AfD na Alemanha. No caso francês, as eleições antecipadas para a Assembleia Nacional terão a sua primeira volta já no próximo domingo com, ao que tudo indica, a vitória a pertencer a Marine Le Pen, com a frente de esquerda a surgir em segundo lugar. Isto só pode representar um grande retrocesso na Europa. Convém lembrar aos que, em Portugal, defendem a extrema-direita francesa, que esta quer acabar com o ensino do português nas escolas. Grande parceiro que quer atirar uma das maiores comunidades imigrantes para o caixote do lixo.
O caso da AfD parece-me ser ainda mais grave, como saudar o resultado de uma força que carrega em si as piores coisas de um dos Estados mais cruéis de que há memória, com políticas que só podem ter a guerra e a desestruturação total da Europa como consequência? Democracia não é isto. Estas forças que vão ganhando cada vez mais poder têm em si o condão de destruir o que fomos construindo coletivamente, no espaço europeu, desde 1945.
Constitui-se também como cenário bastante grave a presença de 40 partidos de extrema-direita em Estrasburgo, com uma dimensão equivalente à social-democracia. Mais uma vez, a sua força crescente vai acentuar a escalada militar a que temos vindo a assistir nos últimos anos e a uma criminalização dos migrantes.
Esta é a consequência de, desde os anos 80 o chamado centrão da Europa ter abraçado o dogma neoliberal, que encerra em si políticas e ideologias anti-migratórias e reacionárias que não foram capazes de resolver problemas reais das pessoas, causando grande descontentamento entre as populações e abrindo o terreno fértil para o crescimento dos populismos que só irão contribuir para o fim de uma luta pela justiça social, que já se encontra num ponto bastante sensível.
*representante do BE