> Diogo Barbosa
Na semana passada um cidadão foi assassinado por um elemento da PSP, sendo a décima terceira pessoa morta por elementos das forças de segurança no espaço de oito anos. É difícil perceber como uma contraordenação grave no trânsito acaba com uma pessoa morta a tiro às mãos de um agente de autoridade. Ser agente de autoridade não significa ter impunidade. Infelizmente o caso de Odair Moniz não é uma caso isolado e serviu para a extrema direita portuguesa fazer a apologia securitária e de que a polícia deveria ter mais poderes e, segundo palavras de um seu deputado, não deveria ter medo de disparar a matar. Estamos mal quando um representante partidário atiça as forças de segurança. Caro Pedro Pinto, não estamos nos Estados Unidos da América, onde operações stop servem o propósito de traçar um perfil racial e amedrontar as populações de certas localidades.
Que comportamento do Estado é este, que mata um cidadão e ainda arromba a porta de casa onde a família se encontra a fazer o luto. Lembro-me de ser uma discussão recorrente o facto de Portugal ser um país racista ou não. Creio que este caso, mais uma vez, não deixa dúvidas sobre o racismo estrutural que existe neste país. Como devem saber os leitores deste jornal, não sou o maior fã de Isaltino Morais, Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, mas as suas palavras são representativas do tratamento diferenciado de que são vítimas estas populações. Pessoas pacatas e trabalhadoras, é esta a descrição que Isaltino Morais faz da população que vive nos bairros que, compreensivelmente, se tornaram tumultuosos na passada semana. Não sei como se espera que reaja uma população que está sempre a ser ostracizada e criminalizada pela sua cor de pele.
Duas coisas aqui devem ser muito claras. Ainda que tenha cometido uma contraordenação grave, como ter pisado um traço contínuo, não ter acatado a ordem para parar, nunca seria justificação para morrer às mãos de um agente de segurança. Da mesma forma, a atuação das forças policiais nestes bairros só vai fazer com que a raiva cresça, porque estas pessoas são objetivamente discriminadas todos os dias das suas vidas.
Diogo Barbosa, Representante do BE