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Correio de Azeméis

20 May 2024

Trabalhar para viver ou viver para trabalhar

Helena Terra

> Helena Terra

Ouvir gente a lamentar-se de não ter tempo para nada é cada vez mais usual. Cada dia continua a ter vinte e quatro horas e cada ano, exceto os anos bissextos que ainda têm mais um, continua a ter trezentos e sessenta e cinco dias.
O Instituto nacional de estatística (INE) revela que, no final do primeiro trimestre deste ano, mais de 262 400 pessoas tinham dois ou mais empregos, revelando também que o número de pessoas nesta situação tem vindo a aumentar anualmente, sendo que, nos últimos 3 anos, este aumento de cifrou em 30%.
Deste número de pessoas, 56,5% têm formação superior. O ingresso no mercado de trabalho ainda é compensador para quem tem qualificação superior, mas a progressão salarial, após o ingresso, é praticamente inexistente. Nos primeiros anos de ingresso no mercado de trabalho a motivação para arranjar um segundo emprego é a de ter uma fonte de rendimento que permita alocar meios para viajar ou para conseguir um pequeno pé-de-meia que permita arranjar a entrada para a compra de uma casa, rumo à independência familiar, hoje cada vez mais tardia.
Numa segunda fase, com a compra da casa, vieram o escalar das taxas de juro e uma inflação galopante que empurram para a necessidade de ter um segundo e até um terceiro emprego. Com a crise habitacional em que vivemos o salário da atividade profissional dita principal é absorvido pela prestação ou renda de casa e pelos custos dai inerentes e, depois disto é necessário dinheiro para viver, para pagar o carro e para manter mínimos de vida digna.
Durante muitos anos, na minha geração e nas gerações anteriores à minha, a formação superior era uma ferramenta que, normalmente, garantia uma melhoria de vida em relação às gerações anteriores e que constituía um elevador socio económico para a vida.
Atualmente, as gerações jovens que fazem o primeiro ingresso no mercado de trabalho, não se diferenciam salarialmente de forma significativa entre mão de obra qualificada e mão de obra indiferenciada. A motivação pelo conhecimento e por longos processos de formação é intrínseca ou, se assim não é, são escassos os recursos motivacionais de que se pode lançar mão para os potenciar.
Muitos de nós foram educados por forma a deixarmos uma marca da nossa passagem por este mundo maravilhoso. E, quando digo isto não falo da peugada de carbono ou do contributo para o buraco do ozono. Falo de capacidade de criar, de pensar, de melhorar a comunidade em que nos inserimos, de ter tempo para atividades contemplativas que conduzam à criação. Certo é que, também crescemos a ouvir dizer que primum vivere deinde philosophari; ou seja, primeiro viver, em seguida filosofar; primeiro ganhar a vida e só depois buscar o recreio do espírito. Nada contra, tudo a favor. Mas atualmente a máxima a ter lugar à vida comum seria vita non potest esse de superstitibus; ou seja, a vida não pode ser só sobreviver.
 A vida não pode ser só trabalhar, pagar contas e morrer….

Helena Terra,  Advogada

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