15 Feb 2023
Albino Martins*
Na qualidade de defensor dos interesses oliveirenses desde há um século, o Correio de Azeméis vem pugnando pela beneficiação da Linha do Vale do Vouga e, enquanto decorre a discussão do Plano Ferroviário Nacional (PFN), lançou uma petição pública visando a transformação da linha de bitola métrica em bitola ibérica. A proposta visa retirar o “Vouguinha” do isolamento de linha única do país e proporcionar uma circulação de comboios desta linha diretos ao Porto sem transbordos.
Confesso que a ideia me seduziu de imediato e quis ser um dos primeiros subscritores a assinar a petição. Entusiasmado, assisti há dias, no Europarque, ao suposto debate promovido pela Associação de Municípios Terras de Santa Maria. Suposto porque num debate se confrontam posições diversas, por vezes antagónicas, pesam-se prós e contras de umas e outras, tiram-se conclusões. E o que se ouviu? Três oradores focados na mesma direção, só vendo obstáculos à implementação da bitola ibérica, a começar nas questões financeiras e a acabar na inviabilidade técnica de colocar uma linha mais larga no mesmo canal por onde tem passado a linha estreita. Faltou um quarto palestrante que, ao que consta, teria apresentado uma visão diferente…
Como técnicos que são, é compreensível que opinem sobre os ângulos fechados nas curvas existentes, as muitas passagens de nível a suprimir, ou as necessárias alterações ao traçado. Mas as questões financeiras, os elevados custos, não são questões a ponderar e decidir pelos políticos?
Desiludido com o debate, retenho a mensagem de completa inviabilidade de bitola ibérica na Linha do Vouga. A ser verdade, cai por terra a justa pretensão do pujante território sul da Área Metropolitana do Porto, em ligar-se efetivamente por ferrovia à região natural a que pertence. Alguém se conforma com esta marginalização das populações metropolitanas a sul do Douro?
Os avultados investimentos com a expansão do Metro do Porto, até alguns pontos de Vila Nova de Gaia, demonstram a vontade de “agarrar” as populações a sul. E por que não aproveitar esse corredor para chegar mais rápido ao Porto?
Não indo além da beneficiação já prevista, o Vouguinha tinha todas as condições para nos colocar de forma mais direta e rápida no Porto. Bastava abrir na atual linha uma bifurcação algures em S. João de Ver que apontasse Gaia, chegando até ao Metro.
* Ex-vice presidente da câmara municipal