Da tranquilidade de vila bonita* à vontade de um progresso sem conteúdo

Ana Isabel da Costa e Silva

Ana Isabel da Costa e Silva *

Oliveira de Azeméis situada ‘entre o mar e a serra, numa chã airosa que divide os vales dos rios Antuã e Ul, a 220 metros de altitude’ tem, segundo a mesma publicação, ‘paisagens de rara beleza e de um património histórico e cultural considerável’.

No que diz respeito a infraestruturas mais antigas, Oliveira de Azeméis é atravessada pela antiga Estrada Nacional n. º1 (EN1) e é servida pela linha férrea do Vale do Vouga que atravessa, de norte para sul, algumas das suas freguesias, nomeadamente Couto de Cucujães, Santiago de Riba-Ul, Oliveira de Azeméis, Ul, Macinhata de Seixa, Travanca e Pinheiro da Bemposta. Com apenas estes dois elementos infraestruturais, no território, seria possível desenvolver uma cidade confortável, com as comodidades necessárias e únicas para construir uma cidade bem desenhada, que permitisse uma vida pacata e, ao mesmo tempo, próxima dos grandes acontecimentos, dada a sua proximidade às cidades do Porto, Aveiro e Coimbra.
Temos um património construído invejável, antigo e moderno, como as ‘Casas de Brasileiro’ e o conhecido Banco Pinto & Souto Maior, desenhado pelo arquiteto Álvaro Siza, respetivamente. Temos um Parque, projetado no início do século, bem desenhado e muito frequentado. Tínhamos um hospital, considerado, outrora, um dos melhores a nível nacional, nomeadamente no âmbito da pediatria, e duas escolas de referência, o antigo Colégio e a Escola de Artes e Ofícios. Temos uma indústria que sempre procurou setores de inovação, primeiramente com o vidro e, posteriormente, com o sector dos moldes e plásticos. Certamente, ‘tínhamos tudo para dar certo’.
No entanto, as vontades de desenvolvimento foram, sobretudo, canalizadas na aposta em novas infraestruturas, de acesso rápido, deixando de lado, por exemplo, a linha ferroviária. Assim, na década de 90, chega o IC2 e rasga a nossa cidade a meio. Logo a seguir há a decisão de fechar o troço da EN1, no centro da cidade, ao trânsito automóvel. 
O convívio entre formas diversas de percorrer aquele troço da EN1, deu lugar a um espaço sombrio, uma rua deserta, uma rua pedonal onde não há peões. E se a rua pedonal se encontra vazia de vida, os edifícios, que constroem o seu cenário lateral, têm vindo, paulatinamente, a esvaziar-se de conteúdo. 
 Não se defende, de modo algum, o retorno dos camiões ao centro da cidade, mas, justamente, o convívio saudável entre o automóvel e o peão é uma das maiores conquistas que uma cidade poderá fazer. É uma das conquistas que urge levar a cabo em Oliveira de Azeméis, não só naquele troço da antiga EN1 como na cidade, na sua globalidade. 

*COUTO, Alberto (1965). Eça de Queirós e Oliveira de Azeméis. Coimbra: Coimbra editores, 1965, p.12.
Azeméis, Câmara Municipal. Oliveira de Azeméis – Dois Séculos de História. Paredes: Reviver Editora, 2001, p.9.

 * Arquiteta e docente da  Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, natural e residente  em O. Azeméis
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