Uma polícia da moralidade

Helena Terra

Helena Terra *

O Irão vive em verdadeiro tumulto. A causa mais próxima foi a morte de uma jovem de 22 anos Mahsa Amini que foi detida a 13 de setembro, na capital Teerão porque vestia mal o hijab, lenço islâmico que deveria cobrir todo o cabelo e pescoço desta jovem, como de qualquer mulher. A jovem foi detida pela conhecida “polícia da moralidade” do país e levada para um “centro de reeducação” para ter lições de modéstia. Pouco depois entrou em coma e 3 dias depois estava morta.

Os protestos no Irão pela morte de Mahsa Amini causaram já, até ao momento, cerca de meia centena de mortos e 1.186 detidos após nove dias. A morte desta jovem não é a causa dos protestos, mas pode ter sido a “gota de água” que levou a que a bravura das mulheres se fizesse notar manifestando a sua “raiva” contra um regime que lhes retira o exercício das mais elementares liberdades. A “polícia da moralidade” é uma força policial com acesso ao poder, às armas e aos centros de detenção e tem, também, controlo sobre os recentemente introduzidos “centros de reeducação” e corporiza o sistema de disciplina do Irão, levantando a questão da responsabilidade e da impunidade de que goza a elite eclesiástica do país.  
O primeiro “centro de reeducação” abriu em 2019, sem qualquer cobertura ou fundamento legal e, desde então os seus agentes detiveram, arbitrariamente, inúmeras mulheres sob o pretexto de não cumprirem o uso, o bom uso, do hijab forçado pelo Estado.
Depois de 16 de setembro, milhares de pessoas, de todo o Irão, saíram às ruas nas últimas noites, de acordo com testemunhas e filmagens das redes sociais que vão correndo mundo, mas, para o impedir, o governo tem vindo a impor várias restrições à internet e à informação, sendo que as operadoras de redes móveis provocam vários apagões noturnos e a rede fixa tem vindo a revelar, dia após dia, vários “problemas”.
As marchas e manifestações de protestos que começaram em Teerão já se estenderam a tantas outras cidades iranianas. Esta é a maior manifestação de que o povo não quer um regime que trouxe o empobrecimento económico e mantém uma escalada brutal de violação das mais elementares liberdades individuais e direitos dos iranianos em geral e das mulheres em particular.
Voltando ao início, Mahsa Amini foi detida e encaminhada para uma hora de reeducação, num daqueles “centros de reeducação” para uma lição de modéstia. Julgo poder adivinhar quais os meios e os instrumentos “pedagógicos” usados…
Eis uma vergonha a que toda a comunidade internacional tem que dar voz e instrumentos para lhe por fim. Estamos no Século XXI!
* Advogada
 

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