26 Jan 2022
Bruno Aragão *
A vida tem coincidências incríveis. Trago aqui a história que partilhei na semana anterior às eleições de 2019, porque me marcou profundamente. Foi numa das arruadas pelo distrito que tive um dos momentos mais bonitos daquela campanha. São sempre as histórias mais simples que nos ensinam coisas sérias e eu sempre gostei de histórias.
Na tal arruada, ao tentar proteger uma senhora que me pareceu quase centenária, disse-lhe com um sorriso:
– Segure-se no meu braço antes que a política a leve!
Ela sorriu também e genuinamente não esperei mais do que isso. Mas ela segurou-se mesmo e sussurrou-me:
– Gostava muito que a política me tivesse levado!
– Olhe que não, que isto é um canseira e, por mais sérios, levamos todos com os mesmos nomes – respondi-lhe eu.
Ela, baixinha, cabelos brancos muito arranjados, olhou para mim com a profundidade que desarma qualquer um e respondeu-me:
– Tenho 91 anos, sabe? E a única coisa que me arrependo na vida é de não me ter cansado mais. Canse-se por si e um bocadinho por mim, menino.
Olhamos um para o outro, sorrimos em silêncio e ela deu-me uma palmadinha no rosto, como só os avós sabem fazer. Ela seguiu, sem pressa, o seu caminho. Eu, mudo, encontrei naquele sussurro desconhecido o alento que tantas vezes nos falta.
Pelas coincidências em que até custa a acreditar, encontrei nesta campanha essa velhinha, agora com 93 anos, mas o mesmo sorriso. Não só se recordava desse momento, como me pediu contas. E, mais uma vez, me arrancou facilmente um sorriso, quando me disse:
- Menino, obrigado por continuarem a trazer esperança a uma velhota. É isso que nos faz andar.
Como candidato podia pedir-lhe para votar no Partido Socialista e, com o seu voto, ajudar a eleger um deputado de Oliveira de Azeméis. Mas não! Peço-lhe apenas que se canse e vá votar. Porque, no dia seguinte, continuaremos todos a construir um país e um concelho com mais esperança no futuro.
* Presidente da Concelhia do Partido Socialista