7 Mar 2022
Bruno Aragão *
A minha última crónica suscitou um intempestivo direito de resposta. Ainda que a resposta não tenha trazido nada de novo, pensei responder à parte final porque, mais uma vez, houve desonestidade política. Recorreu-se à velha escola de lançar suspeitas sobre “muitas outras afirmações”, para nada se dizer. Enfim, cada um tem a escola que tem.
Infelizmente, não me faz sentido hoje responder, pela simples razão de que, neste entretanto, passou a ser uma insignificante minudência, como decerto também a minha crónica anterior. Neste espaço de tempo, iniciou-se a Guerra. Assim mesmo, com o artigo bem definido, porque as guerras são sempre concretas. Concretas na dor, na destruição, nas marcas profundas que deixam para toda a vida.
À resistência do povo ucraniano, respondeu a solidariedade internacional de muitos povos de todo o mundo. A ajuda que enviamos, as homenagens que fazemos, a disponibilidade que manifestamos para os acolher, transportam um animo que é, muitas vezes, a única arma que impele à resistência.
De ambos os lados há pessoas que sofrem e que são vítimas de decisões e de lógicas que não escolheram. Essas pessoas, como muitos de nós, nada sabem de geopolítica ou de estratégias militares. Sabem da vida de todos os dias e, na longa marcha dos povos, como diria Ferreira de Castro, seguem à procuram de pão e de um mundo melhor. É esta existência comum que nos irmana, como profundamente nos recordou Yelena Osipova.
Yelena é uma das sobreviventes russas do Cerco de Leninegrado, um dos episódios negros da 2ª Guerra Mundial, quando a Alemanha Nazi invadiu a Rússia. Yelena era um bebé. Quase 80 anos depois, foi Yelena que, mesmo com dificuldade em andar, não deixou de sair à rua e de se manifestar com um cartaz. Foi presa, mas a sua imagem frágil tornou-se um símbolo dos valores pelos quais importa sempre lutar. Qualquer que seja o sítio onde nascemos.
* Presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista