Visão de futuro

Na semana passada, a 7 de Dezembro, Mário Soares teria feito 99 anos. Iniciou-se nesse dia a comemoração dos seus 100 anos do seu nascimento, num ano especial em que celebraremos também os 50 anos do 25 de Abril. 
Nunca tinha pensado nisso, mas em 1974 Mário Soares tinha 50 anos. Havia vivido toda a sua vida em ditadura, atravessado todo o período do Estado Novo. Não tinha outra memória do país que não fosse essa. Para ele, a liberdade não era um esforço de abstração ou uma um ideal imaterial. Era um valor que se traduzia em ideias concretas, em formas de governo, em programas de ação que, no dia-a-dia, podemos sentir. Se temos hoje imprensa livre, escola pública, liberdade de movimentos, possibilidade de crítica, sistemas de segurança social, saúde pública, devemo-lo a pessoas que num determinado momento entenderam que essas lutas não era uma abstração. Nessa altura, a maioria da população portuguesa, tal como Mário Soares, também não tinha qualquer memória de um país diferente.
Cinquenta anos depois, acontece quase o mesmo. A maioria de nós, como eu, não tem memória de um país diferente deste que hoje vivemos. De um país que, com todos as seus imperfeições e idiossincrasias, nos assegura tudo o que acima referia. É exatamente por isso que as comemorações dos 50 anos de abril não podem ser apenas um registo histórico de uma data. Nem é justo que eu, e as pessoas que como eu, não têm outra memória do país, se fiquem pela ideia de que é uma realidade distante, de que para nós a ditadura, a revolução ou a liberdade, são um esforço de abstração. Não podem ser.
Também para nós tem de ser uma ideia com existência própria, com dimensão material, pela qual todos os dias sentimos necessidade de trabalhar. Por incrível que parece, o próximo ano, não será só um ano de comemoração. Com as eleições que aí vêm, será também um ano de construir, de forma bem real, estes valores. É uma tarefa das gerações. Também da minha. 
     

* presidente da Comissão Política Concelhia do PS