Visão de futuro

Começo 2024 como terminei 2023. “Este ano não será só um ano de comemoração dos 50 anos de Abril. Com as eleições que aí vêm, será também um ano de construir, de forma bem real, estes valores. É uma tarefa das gerações. Também da minha.” Em política não somos só herdeiros daquilo que os outros fizeram ou escolheram antes de nós. Somos responsáveis por opções e sonhos próprios. Foi o que aconteceu este fim-de-semana.
Pedro Nuno Santos formalizou a sua liderança do Partido Socialista, depois de eleições internas que foram um exemplo de maturidade para outros partidos. Bastará recordar as eleições quase fratricidas no PSD, no CDS ou na Iniciativa Liberal. Partidos que não conseguem discutir consigo próprios, dificilmente conseguem discutir com os outros e com a sociedade. Mas há um dado interessante nesta eleição. Pedro Nuno Santos é o primeiro Secretário-Geral do Partido Socialista que nasceu depois do 25 de Abril.
Há, portanto, uma mudança de geração que não é apenas uma mudança de liderança. É uma mudança de vivências, de uma geração que cresceu com muitos dos progressos que o país fez nestas cinco décadas: da escola pública ao Serviço Nacional de Saúde, ou do sistema público de Segurança Social ao Salário Mínimo. Somos filhos destas conquistas que outros fizeram por nós. 
Para nós que nascemos com tudo isto, ao contrário da geração de António Costa e das gerações anteriores à dele, propor soluções para os desafios que ainda não ultrapassamos ou continuar o que de bom até aqui fizemos é assim bem diferente. Por isso me marcou uma frase de António Costa no discurso de transição, um momento emotivo que mostrou a maturidade do partido em que milito: “Só o PS fará melhor que o PS.” É evidentemente uma frase de um líder partidário e, por isso, discutível para alguns. Mas é uma crença profunda no legado próprio e, sobretudo, na capacidade de quem vem depois de nós. É política e geracionalmente uma visão de esperança. 
 

* presidente da Comissão Política Concelhia do PS