Visão de futuro

Permitam-me que dedique esta e a próxima crónica aos 50 anos da Revolução. Dedico-a sempre a assuntos mais locais, mas não só a força da data o justifica, como não há nada mais próximo e mais consequente do que a liberdade que experimentamos nessa manhã de abril e, o mais importante, o que com ela fizemos. E o que fizemos com essa liberdade? 
Em primeiro lugar, devemos assumir que a liberdade não tem lados. Tem praticantes. Não se pratica em partes, ou por áreas, ou quando é útil. É uma construção permanente, que o sucesso dos últimos 50 anos pode fazer esquecer, mas é bom que o lembremos frontalmente. A liberdade não existe, faz-se! E fizemo-la nestes 50 anos. Os que primeiro a assumiram souberam vivê-la e, o mais importante, transmiti-la aos que vieram a seguir. Sejamos gratos por poder senti-la. 
Em segundo lugar, neste espaço de liberdade construímos um país democrático. Esse sim, com lados, posições diferentes, opções várias. Fomos capazes de aprender que esta diversidade só tem solução em democracia, votando. Fazendo valer maiorias, mas encontrando espaço para as minorias. Sejamos inteligentes para não o esquecer.
Em terceiro lugar, reconstruimos um país. Na educação, na saúde, nas condições de trabalho, na segurança social, na cultura. Não aceitemos discursos que menorizam o que conseguimos. Foi muito, foi duro, mas é extraordinário. 
Por último, cometemos erros. Ah, se cometemos! Uns por inexperiência, outros por má avaliação. Alguns por escolhermos más pessoas. Outros por escolhermos más políticas. Mas até essa possibilidade de errar, de mudar pessoas, de alterar políticas, de assumir responsabilidades, de recomeçar, é um exercício de extraordinária liberdade. Sejamos humildes para o reconhecer.
Não esqueçamos nunca, que a possibilidade de olharmos para nós, individual ou coletivamente, e assumirmos o que somos, sem medo, é consequência destes 50 anos. E não há outro regime que permita este confronto connosco e com os outros.  

* Presidente da Comissão Política Concelhia do PS