1 Jul 2024
Bruno Aragão *
A política tem de ser esforço de elevação social, cultural e material coletivos. E essa capacidade de elevação, de nos sentirmos crescer, de melhor compreendermos os outros resulta das aprendizagens que fazemos e da forma como as utilizamos. Não posso, por isso, deixar de sinalizar os 50 anos da morte de Ferreira de Castro, que se cumpriram este sábado, 29 de junho.
Haveria outras matérias sobre o que escrever, como a Feira do Livro que se realizou 19 anos depois, uma coisa que, na terra de Ferreira de Castro, nos devia fazer refletir. Tudo me parece menor e teremos tempo para o que ocupa o dia-a-dia.
Ferreira de Castro morreu há 50 anos. Como aconteceu a muitos, durante o meu período escolar e adolescência, fui pouco despertado para o seu legado e para o seu exemplo. Publicamente, o que tínhamos era a casa-museu, que se degradava a olhos vistos, e que chegou a 2017 como todos sabemos. Também a Biblioteca de Ossela estava num estado de conservação inqualificável, felizmente requalificada há pouco pela Câmara Municipal.
Ferreira de Castro é um dos oliveirenses maiores da nossa História. Não apenas como escritor de romances, de viagens ou como jornalista. Foi-o, sobretudo, pela sua enorme humanidade, pela crença profunda na liberdade, pelo jeito modesto, mas seguro, e por uma compreensão social inigualável. O que disse e o que escreveu traz densidade ao nosso pensamento, alarga-nos o horizonte e as vistas e molda a forma como politicamente pensamos. Para nós oliveirenses, estes 50 anos têm de ser mais do que uma evocação. Devem ser a consciência individual e coletiva da comunidade que queremos ser, imaginando que somos nós o “irmão longínquo” a quem Ferreira de Castro escreveu no pórtico de Eternidade, em 1933: “A tua vida terá, no espaço e no tempo, horizontes que a maioria dos meus contemporâneos dificilmente concebe.” É esta a nossa responsabilidade, política e social.
* Presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Socialista