8 May 2025
> Bruno Aragão
Apesar da circunstância local deste espaço de opinião política, digo muitas vezes que não devemos municipalizar assuntos que não têm natureza municipal. Pode dar jeito, mas não é honesto. Insisti nessa ideia, por exemplo, na altura da pandemia, quando a oposição procurou ganho de causa num assunto que nada tinha de local. Mais recentemente, a habitação é outro bom exemplo. Temos uma enorme carência, mas têm-no também todos os outros concelhos e muitos países na Europa.
Será por isso também um erro fazermos o contrário. Há assuntos que devemos municipalizar, mesmo quando não têm aqui origem. Senti-los como nossos. O recente falecimento do Papa Francisco é um deles, independentemente de sermos ou não crentes.
Aquilo que somos enquanto comunidade, a forma como nos vemos enquanto indivíduos, a qualidade das nossas relações, é muito inspirada pelas lideranças e pelo movimento que elas imprimem. O que dizem e como dizem molda o que acontece no mundo, mesmo no nosso pequeno mundo. Se há espaço para compreender as posições dos outros, se há espaço para o diálogo, se há um esforço para cooperar, se a causa pública é o grande móbil das nossas ações, é porque somos influenciados para esse caminho.
É esse um dos grandes legados do Papa Francisco. O “todos, todos, todos”, que agora se repete como mantra, não é apenas uma expressão de inclusão avulsa. É, com mais profundidade, uma forte ideia de igualdade. Não se trata apenas de incluir ou não marginalizar, trata-se de compreender e de tratar como igual. De sentirmos que os lugares da fila da frente não são apenas nossos, são também dos outros. E esta é uma visão política, uma visão sobre a organização da sociedade, das suas estruturas e instituições.
A seriedade que colocamos no exercício dos cargos não nos livra do erro. Mas a honestidade dessa postura, torna o erro parte do caminho e do processo. Sobretudo em política, até no erro temos obrigação de ser honestos e sérios. É também isso que nos pode tornar exemplos e, sobretudo, merecedores da confiança dos outros ou, idealmente, de todos, até dos que não votam ou votarão em nós. Porque no exercício dos cargos precisamos mesmo de todos.
Bruno Aragão, Presidente da Comissão Política Concelhia do PS